Nos primeiros cinco meses deste ano, houve um grande aumento de suspeitos de envolvimento em movimentações atípicas de recursos no Rio de Janeiro. Muitos carregaram cartões de crédito pré-pagos com dinheiro em espécie, como mostram relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, obtidos pelo jornal “O Globo”.
De 1º de janeiro até o último dia 16, o órgão identificou 30.537 pessoas que realizaram transações fora do padrão, o que pode indicar a prática de operações de lavagem de dinheiro. O número é 7% maior que o registrado ao longo de todo o ano passado. Em 2017, 28.463 moradores do Estado foram parar na malha do Coaf por indícios de irregularidades.
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Os resultados das análises do Coaf constam de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF), que são enviados a promotores e à Secretaria de Segurança do Estado do Rio. Este ano, o conselho produziu 248 RIFs no Rio. Os documentos servem de base para a abertura de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O Coaf não investiga, apenas detecta movimentações que apresentam indícios de irregularidades e encaminha a documentação para as autoridades competentes.
O número de operações atípicas de janeiro a maio já é quase sete vezes maior que o de 2013. Naquele ano, o Coaf citou 4.616 pessoas em 161 RIFs.
Segundo o diretor de Inteligência Financeira do conselho, Joaquim da Cunha Neto, todas as movimentações atípicas são rastreadas antes da elaboração dos relatórios, último passo para o repasse de informações aos órgãos de investigação. Ele frisa que somente autoridades policiais e do Ministério Público podem concluir se houve operação criminosa.
“Tecnicamente falando, nem todos os identificados em nossos relatórios podem ser considerados suspeitos. O que temos são operações em espécie e automáticas que chamam a atenção, e, por isso, são comunicadas pelo Coaf ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal”, afirma Cunha Neto.
Para ele, a disparada no número de responsáveis por transações sob suspeita está relacionada a um aumento incomum de carregamentos de cartões pré-pagos com dinheiro em espécie.
O Banco Central passou a regular essa modalidade de operação em 2013. Além de ser detectado nas análises do Coaf, o aumento das operações com cartões pré-pagos no Rio também consta de relatórios da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
No balanço da entidade, o salto foi grande: em 2016, houve a movimentação de R$ 3,9 bilhões; em 2017, R$ 6,6 bilhões (quase 70% de aumento).
Monitoramento
O Coaf monitora operações em diferentes setores, como loterias, cartões de crédito, lojas de joias e antiguidades, negociações de imóveis e mercados de seguros e previdência privada. Também acompanha movimentações bancárias e saques na boca do caixa. Muitas vezes, o conselho age a partir de informações passadas por instituições financeiras.
O levantamento que o Coaf fez no Rio identificou 71.433 operações bancárias que consistiram em retiradas de quantias a partir de R$ 50 mil em espécie. Cerca de nove mil delas entraram em relatórios como transações suspeitas.
De acordo com o conselho, os RIFs são produzidos quando resultados das análises indicam “a existência de fundados indícios de lavagem de dinheiro ou qualquer outro ilícito”.
Para o Coaf, é possível que o aumento de operações suspeitas no Rio tenha sido identificado por conta de uma maior capacitação de técnicos responsáveis pelas análises, melhorias das ferramentas de fiscalização, fortalecimento do intercâmbio de informações e crescente difusão de dados entre os vários setores financeiros, incluindo instituições internacionais.
Fonte: O Globo | Gustavo Azeredo / Agência O Globo